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quarta-feira, junho 26, 2013

Corpo Perdido

Sou todo energia... já dizia o poeta da física. Atravesso-te em feixes de elétrons e depois me perco. E depois me acho. E depois me perco, depois me acho. Depois me perco e me acho. Sou todo signo... já dizia o poeta semiótico. Atravesso-te em significados e me perco. E depois me acho. E depois me perco, depois me acho. Depois me perco e me acho. Sou todo político... já dizia o poeta comunista. Atravesso-te em ideologias e depois me perco. E depois me acho. E depois me perco, depois me acho. Depois me perco e me acho. Eu sou o samba... já dizia o poeta da Portela. Atravesso-te em notas de cachaça e depois me perco. E depois me acho. E depois me perco, depois me acho. Depois me perco e me acho. Sou todo nada... já dizia o poeta da filosofia e depois me perco. Depois me perco e... só me perco. Só me perco...

quinta-feira, junho 20, 2013

Corpo Gigante

O gigante acordou. (bocejo). São seis horas da manhã e ainda nem enxerga direito. Mal dormiu, #partiu pro chuveiro. O olho arde sem saber se vem do sono não dormido ou do xampu barato vendido no mercadinho de periferia. Lava o saco como se limpasse o mal humor de uma vida farta e vai, ali, esquecendo que já são seis e meia enquanto perde-se nos pentelhos. (boceja). São oitenta quilos que mais parecem cem. Um café engolido as pressas, uma fatia de qualquer coisa, um beijo na esposa, um trem de desalento. (bocejo). Tá faltando comida na geladeira. 

O gigante acordou. Foi à feira, carregou batata, atualizou o preço do tomate na placa, anunciou que o preço é bom e não vai sobrar nada pra xepa. Recolhe a barraca. (bocejo). São trezentos quilos de ferro e lona que mais parecem quinhentos e cinqüenta. Deixa o lixo alí pro alguém ter trabalho. Faz a conta do dia e se dá conta que vive pra fazer dinheiro. 

O gigante acordou. (bocejo). Hoje é dia pra noite. Pegaram sua luva por engano e atrasou a saída do caminhão de lixo. Tinham que fazer três ruas por uma e na correria ia acabar ficando serviço sujo. Ano passado a caixinha foi fraca, é melhor melhorar pro final desse ano ficar bonito. (bocejo). Hoje tá foda. Fazer rua do centro é catar na bosta e no mijo. Quase confundir craquero com entulho, alí no canto da rua. Mas a diversão é zoar com as putas, que retribuem mostrando a bunda pro operário fudido. (bocejo). 

O gigante acordou. (bocejo). Foi à forra. Travesti de 1,90m não leva desaforo pra casa. Mas se juntam três carecas, uma chave de roda, um soco inglês e uma corrente de aço apertada no pescoço, o pra casa nunca chega e a rua fica ainda mais solitária. Hoje não tem bocejo, tem ultimo suspiro sufocado e o bafo frio de qualquer dessas geladeiras do IML.

O gigante acordou. (bocejo). Foi à missa do Domingo, que atrasou. O padre passou mal... mas dizem que foi algo com o coroinha, na verdade. Só que se cala, se ajoelha e se reza. Não se blasfema com a fofoca alheia. (bocejo) Que chegue a óstia antes do futebol. Vou perder a hora, o apito, o churrasco e o samba. 

O gigante acordou. (bocejo) Mas em suma nem durmiu. Em suma, vai sumindo. De vez em quando lembra que tem parente... isso quando dá folga no batente. Mas é quase nunca. (bocejo) Quase nunca não é segunda-feira. Quase nunca não é. Quase sempre o gigante é bem pequeninho. 

quinta-feira, junho 13, 2013

A Falência

Jesus 
Desce já da Cruz
Seu moleque
Jesus
Que não desce da Cruz
Seu moleque
Que não desce
Vem cá
Vai ficar vendo tudo, paradão, aí de cima
Desce o Monte Everest, preza aqui embaixo cu'nóis
Na casa do cacete, no cu da mãe Joana
Desce
A Cruz ninguém pertence
Nem ao homem e nem ao mito
A Cruz é espírito, é símbolo
Desce já do signo seu moleque
E vem brincar de cabra cega
Bezerro chucro da manjedoura
Mais vale a fé do que a cenoura

Desce já
E não me faça à sua semelhança enquanto filho do homem
Homem falido

Sou filho só daquele foi morto com um tiro
Só dele sou filho

Então
Desce da Cruz e valha-me enquanto a navalha corta a carne
Enquanto a bosta fede a bosta. 
A bosta fede diferente
No pobre e no rico
No trono e na sarjeta

Inverta
Desce da Cruz e bota outro em seu lugar
Divida esse peso, você pode sair daí
Chega de ficar pregado a morte inteira
Desiste de 'nóis'
O ser-humano foi a falência, 
não há mais mártires, só tarja preta
Seguem aos montes, as carnes, os ossos
Quebrados, na osteoporose miséria
Alucinados por remédios contrabandeados pela indústria farmacêutica. 

Desce da cruz, Jesus
Precisamos de mais gente na lubuta
Pra dar e receber tapa na cara
Tanta face ingrata que nem vale dar a outra. Pra quê astuta?
É tanto cego, tanta lepra, tanta puta
Que falta milagre, sobra luta
É tanto tiro e tanta reza, tanto ferro e tanta gente se ferra...
Que não sei mais qual conduta
Qual a porra da disputa

Escuta, escuta...
...Então,
desce da cruz e vê se me ajuda
Cá embaixo, nos estilhaços dessa vida humana imunda
Que só afunda, afunda, afunda

Jesus desce da cruz
Desce da cruz e vem brincar cá embaixo co's muleque
Não precisa sermão, Nike ou Rolex
Traz uma bola, um poema, uma bike e Diz pro chefe que agora é greve se ele não liberar a fruta
Pro-i-bir
Avisa
Não precisa mais vigília
Não precisa de perdão
Chega de pecado
Chega de ilusão
Agora é cá embaixo que me re-ligo, uns aos outros, ser-humano e ser-humano
Nessa tal religião.