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terça-feira, junho 03, 2014

da série Corpo em Auto...

Crítica

A perspectiva autocrítica que há em/de minhas atitudes pessoais não é a de apontar-me os defeitos a serem concertados, dos erros a serem acertados, mas sim de instaurar em mim a própria crisis e permitir que permaneça em mim movimento, possibilidades de transformação. Portanto a minha autocrítica é também meu automóvel do caos. 

quinta-feira, maio 15, 2014

Corpo de Portas Abertas

Não fui eu quem abriu a porteira. 
Segui na estrada sem olhar pra trás. Atravessei o mata burro, continuei meus passos pelo barro sem nem ver cobra alguma que atravessasse o meu caminho. Pouco me importam os perigos. 
Não fui eu quem abriu a porteira. Quem a abriu que se aprume e feche se quiser. Agora que já atravessei, sigo na estrada sem volta de pra trás olhar. Pouco me importa o que periga estar por aí, nenhuma cobra me fará desviar, nenhum burro obstáculo borra o que determino. Agora é passo ante passo e passo e me roço pelas belas paisagens do caminho. 
Não fui eu quem abriu a porteira. Quem abriu talvez seja o burro, atolado num tanto de si, de pata presa nas ripas atravessadas porque não soube olhar para baixo do umbigo e calcular o risco.  Patas quebradas porque abriu a porteira e já foi logo pulando sem olhar o que olhava... por quem passar? Eu passei por mim, não por ninguém, ou por nada. Passei pela aventura de passar para o lado desconhecido e sigo rumo reto e curvo, sem volta, sem olho nas costas, sem nem me preocupar com a porteira, sem nem me importar com os perigos. Qualquer que seja a cobra que atravesse meu caminho, não me importa, tô de bota, com pasto certo me embrenhando, se morro ou se mato, no morro e no mato... afinal
Não fui eu quem abriu a porteira. Foi você. Agora agüenta o tranco. 

segunda-feira, abril 28, 2014

da série A Moderna Ditadura do Amor Pós-Moderno ou Por Onde Anda Pinochet Que Não Veio Dizer Que Me Ama

#4

Amo do meu jeito. Porque sei que há muitos modos de amar. Amor é substantivo, ou seja, um jeito de se fazer substância, substanciar-se. Porque há muitos modos de fluir. Os fluidos são substâncias do amor... e do amar. Há mar e há terra, entre os dois o navegar. Uma aventura piegas, meio Camões, meio Wando. Meio música que gruda, feito maresia, ostra na pedra, areia e espuma. Mas não me apego não. Sou Sagitário com Sagitário, difícil ficar ali olhando o mar de frente numa mesma ilha... quanto aos corpos, se pego, pego mesmo. Aperto por horas pelo prazer de apertar. Amar dá um aperto. Porquê há muitos modos de amar... são tantos os amores possíveis. São tantos, são tantas, que acabo amando do meu jeito na certeza que serão sempre belos os encontros amáveis, porque são plurais e diversos os amores, amares. Amaros.  

terça-feira, abril 22, 2014

Essa treta sobre o sim, o não, o porém, o talvez e o desde quê para os editais/ projetos que hoje regem a produção artística, se dá com o paradoxo de que ao mesmo tempo em que arte não é de mesma natureza do produto do mercado está circunscrita ao seu tempo, portanto, para ser produzida, depende dos meios de produção que envolvem as lógicas de poder. O paradoxo primeiro é que sendo ela um não-produto por natureza, não se sustenta sozinha mas precisa de dinheiro para ser produzida, logo sustentada por algum tipo de mercado nesse nosso contexto [d(e)]volutivo. O ser-humano só foi capaz de inventar até hoje uma única forma de sustentabilidade, àquela que é calcada pelo poder centralizador, subsidiada por alguma de suas formas (Nobreza, Burguesia ou Clero - salvas suas devidas atualizações pós-modernas). Mesmo as tentativas fora-dos-eixos e de economia criativa e de economia solidária possuem lógicas que, de alguma forma ou de outra, encerram a produção artística ao produto. Cabe a nós artistas agir na subversão e talvez a maior delas seja a de não produzir arte. Eis portanto um segundo paradoxo: não produzir arte para ela emergir de fato. Porque talvez a idéia de arte que discutimos hoje já esteja mutada no cromossomo X pelos meios e modos transgênicos de produção capitalista. Talvez a arte que tanto brigamos para que aconteça nem seja arte, seja só um projeto para um edital qualquer, um souvenir para um rico qualquer, uma imagem para uma igreja qualquer, uma propaganda para uma multinacional qualquer... e aí talvez aceitaremos que artistas somos todos e um novo paradigma se apresentará como uma pedra no sapato, um chato no saco, um periférico na academia.

terça-feira, abril 08, 2014

da série A Moderna Ditadura do Amor Pós-Moderno ou Por Onde Anda Pinochet Que Não Veio Dizer Que Me Ama

#3

E me demorei um pouco mais... um bom tanto, digo! Porque é muito amor! Que distribuo, já que não me pertence; e nem a ninguém, por isso amar é livre e é ser livre. Não se vende amor em mercado, nem se registra escritura de posse ou número de protocolo, contrato com fiador ou de fidelidade. Há de ser teu amanhã esse amor e há de ser nosso todos os amores possíveis. E há de ser de ninguém também. Pois há muitas formas de amar e de todas, prefiro essa da qual me lanço sem saber se há lança, dança ou travesseiro. E se me pedes um amor cangaceiro, não posso senão em guerra, ser de paz em Lama, Da Lai, Lampião e Maria Bonita cerrarão em dias decapitados por um amor exposto em prateleira. Isso é o que a ditadura faz, não se deixa amolecer pelos sentimentos verdadeiros e, pimba, mata-os e expõe pra dizer que matou: lição moral: não ame se não for a mim, tal qual. Também não me importa... não me importa a ditadura do tempo. Não me importa se me fazes dividir as horas se nosso ponteiro é o da vida. Jogo o relógio fora e deixo, só deixo... deixar amar é rima fácil de ação difícil... coragem é preciso. É preciso coragem para amar. 

terça-feira, abril 01, 2014

Eu Sozinho e Um Mundo Vazio ao Meu Redor

Atenção senhoras e senhores!! O show vai começar! Eu sozinho e um mundo vazio ao meu redor! Estamos sós! Estamos sós! A geração da solidão, a geração in-geração, implodindo por dentro o que há de humano. Sim! É a evolução! Upgrade humanóides e estamos tão felizes! Rapazes, garotas, virgens, putas, go-go-boys, vejam, vejam, é o zepelim se aproximando no céu! Padres, freiras, presidente da república, veja, veja, é o zepelim descendo ao chão! Vão! Vão!Upload! O que há de melhor na humanidade cabe nele, cabe sim! Estou tão feliz! Vão, vão, não demorem, sigam crianças, aqui não há mais pureza, não há mais beleza, vão! Eu sozinho e um mundo vazio ao meu redor. Já estamos sós, já estamos sós, só nós e cada nó de si, em cada nó. Nós já estamos sós em cada nós. Embarque no zepelim, vá, vá, vá até você Geni, vá, vá, vão, vão, me deixem aqui com meu acordeão! Estamos tão felizes! Rá! Que bela arca, que bela barca, que beleeeza, que beleeeza, que beleza, que belez, que bele, que be, que...

da série A Moderna Ditadura do Amor Pós-Moderno ou Por Onde Anda Pinochet Que Não Veio Dizer Que Me Ama

#2

Que seja ele um encontro de corpos
Não de sexos. 

da série A Moderna Ditadura do Amor Pós-Moderno ou Por Onde Anda Pinochet Que Não Veio Dizer Que Me Ama

#1

De tanto ver novela
Pensou que a vida era ela
Acreditou ser janela a TV
Assistiu em HD,
Sem saber do sabor que deve ter,
A humanidade e suas tretas, suas tetas, 
sem a tela, sem make'up
Chama a tudo amor porque assim é nos romances teletransmitidos e
Não vê 
Que é drama, 
Só drama
Esse amar que lhe é vendido. 

terça-feira, março 25, 2014

da série Sem Açúcar, Sem Afeto

#4

A espera é particular. Ninguém
Ninguém mesmo sabe o que te espera
Se espera, quando espera,
O nascimento de um filho
O renascimento com a morte
A palavra divina
A grande revelação. 
Ou não, talvez saiba. 
Talvez caiba alguma doçura na espera. 
Talvez seja ela uma angústia, pleonasmo
Doce de açúcar, sarcasmo da vida,
Amor que míngua
Vai matando aos poucos 
Aos poucos
Enquanto saliva
Vai matando aos poucos
Bem aos poucos
Pelos breves prazeres da língua. 

Corpo Retórico

Organizarei um grande desfile socrático. Modelos padrão irão desfilar vestindo as mais belas retóricas, criadas pelos mais badalados estilistas. Contemplará o desfile toda a alta gramática, que, mesmo 'demodê', saboreará taças de Moët & Chandon enquanto tece comentários redundantes sobre o modelo retórico em exposição.

Organizarei um grande desfile socrático. Ao final canapés com gosto de bunda serão servidos em reluzentes bandejas de prata. Gargalhadas forçadas serão a sonoplastia de conversas pseudocultas, como piadas que ninguém entende mas ri, ri, ri alto para mostrar que está feliz. 

Organizarei um grande desfile socrático. Terminado em orgia, mulheres de plástico e pintos drogados, frutos de dólares e dólares de investimento, farão do sexo algo chique, com sujeitos e predicados de alta etiqueta, usando máscaras filosóficas da mais alta qualidade capazes de esconder rostos aventurando-se em elocubrações orgásticas extraconjugais. 

Organizarei um grande desfile socrático... e ficarei ali olhando tudo se acabando, tudo se morrendo, só para me perguntar de forma retórica se a vida é viva mesmo. 

terça-feira, março 18, 2014

Quero ser Leandro Hoehne, enquanto outros só querem me-ter...

Estou eu aqui pensando na vida. Estou eu ali pensando na vida. Eu e meu duplo. Numa mesa redonda de cozinha, um vaso de flores rosas e roxas, uma toalhinha, uma caixinha de maçã que me azedou uma barra de cereais rançosa. Queria mesmo era devorar uma barra de versos, mas no momento só me vem prosa. Estou bem aqui na minha frente. Me olhando nos olhos, braços erguidos, matando pernilongos que se aproximam. Me sinto poderoso com esse espírito matador. Os olhos fundos, a barba por fazer, um desejo de vingança. Por dentro há dança, um tango dramático ao pé do ouvido como num filme de Al Pacino - seduzindo mulheres, sendo bandido. E fico me olhando como se não me conhecesse mais. Fico me olhando como um lobisomem em lua cheia, com medo de mim próprio e admiração também. Diferente de Narciso, sou capaz de matar minha imagem num ato simbólico de suicídio. E não me represento mais, não me reconheço. Essa barba já não é minha e a música do Arnaldo Antunes soa como babaquisse na voz do Nando Reis a cada vez que meu duplo me olha mais fundo. É um pouco de auto-autoanalise. Um pouco de 'se enxerga' como dizem as crianças umas as outras na periferia. Tô me enxergando e gosto do que vejo, o que não significa que seja bom, tão pouco que seja mal. Não é reflexo, é outro de mim. Só quero isso agora, só isso:

Quero ser Leandro Hoehne, enquanto outros só querem me-ter...

da série Sem Açúcar, Sem Afeto #2

Arrastada 250m. 
Seu céu começou no chão
Família chorar no caixão
Sei como é. 
Chá de cidreira é cachaça
Pra mídia, rótulo: desgraça
Mas sei o que é:
É nuca furada de bala -
Papo reto -
Café sem açúcar
Coração sem afeto. 

da série Sem Açúcar, Sem Afeto #1

Não faça a barba, faça amor? Faça a barba e faça amor. Passe os dois na navalha.
E faça dobrado depois. 

da série Sem Açúcar, Sem Afeto #3

Se me mordesse

me lambesse 

me chupasse

veria que amargura é o que me resta

Aqui dentro não há festa

só café com chocolate

quinta-feira, março 06, 2014

Corpo ...

Quero corpo
E não me diga não
Não me diga sim
Me diga
Não
Não me diga 
Nada
Não me diga nada
...
Quero corpo
Pingando
.
.
.
Em silêncio

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Corpapátrida

Hasteai a bandeira
Quase sempre brocha, quase sempre xôxa
Hasteai aos patriotas
Aos generais
Hasteai à toda classe de senhores
A toda casa de senhoras
Hasteai a bandeira dos amores oprimidos
Dos sabores suprimidos
Dos sem poesia, de mãos atadas, relações regradas
Dos nó. Cego.
Hasteai a bandeira
Hasteai a bandeira
Hasteai aquela que será derrubada
para Nunca mais apontar em riste
O rifle
O dedo
O cacetete ou
O cacete
Que fará das pessoas livres
No amor
Na fé
Na sorte
Na morte
Pra morrer como quiser...
Não
Não hasteai
Não hasteai a bandeira
Não hasteai bandeira nenhuma
Nem aquela da paz
Que jaz em tantas bandeiras.
Nem mesmo a comunista
Ou social
Cristã, ou
Aquela
Republicana
da direita ufanista
O que quero dizer
Porra
É que bandeira nenhuma importa
Se no alto o que balança é um pano
E no peito não balança nada
Se no alto vibram cores
E no peito não vibra nada
Se no alto está protegido o símbolo
E ao peito aberto, um tiro.
Prefiro a bandeira embaçada pelo brilho nos seus olhos
Porque
Preciso acreditar que há humanidade neles
Preciso acreditar que me olha como um de mim
Assim,
Enquanto hastear bandeiras, me olhará como um pedaço de pano
E se as cores não forem as mesmas
É triste
Mas um de nós cairá
Para que a outra permaneça em riste.







domingo, fevereiro 23, 2014

Corpo Dessabido

Um sábio chinês que cansou de ser sábio um dia soube que não dava para dessaber. Mas como já sabia que estava cansado de saber, fingiu que disso não saberia e daquele dia em diante tudo ficou diferente. Reaprendeu a contar as flores e a nomear as coisas, a cantar amores e saborear amoras. Aprendeu amar tudo de outros jeitos. Resolveu pensar que talvez nem fosse chinês e aprendeu a falar o erre.  Passou a controlar os soluços e a chorar quando tinha vontade. Conseguia provocar bocejos incontroláveis nas pessoas e a suscitar risos em reis. Divertiu-se em incontáveis vezes. Então, cansado de já saber tudo de novo, sentou em frente a outro dos sábios e perguntou: como dessaber de tudo, tudo mesmo, se eu como dessaber souber? O sábio olhou para ele com cara de quem o ignora, provocando uma pausa momentânea, pensativa, rispidamente respondeu: não sei.